quarta-feira, 25 de maio de 2011

Vinhos da Comporta

Depois do desaire da semana passada, em que Portugal foi preterido pela França na realização da Ryder Cup 2018, e assim perdendo um grande investimento numa região que para mim é um filão de ouro do nosso país: A Comporta.

Não digo que gostaria de ver os longos areais, os campos verdes de sobreiro e pinheiro, ou os longos arrozais decorados com prédios e resorts de luxo, mas nem tanto ao mar nem tanto à terra.

Quem nunca deixou de acreditar nesta região e aposta fortemente no seu desenvolvimento é a Herdade da Comporta, desenvolvendo o seu projecto no turismo, imobiliário, restauração, golfe, sustentabilidade paisagística e aquele que me levou a pensar neste texto: o Vinho.

Foi em 2001 que começaram a plantar uma vinha num terreno que à primeira vista parece um areal, e com a sua proximidade ao mar, presumo que deve ter havido muitas dúvidas em relação ao projecto, mas a realidade é que este conjunto de factores unidos à sua forte exposição solar criaram um micro clima muito propício ao crescimento, desenvolvimento e produção de vinho.

Em 2003 foi o primeiro ano de produção e desde então já plantaram e enxertaram mais vinha, tendo neste momento 30ha de área plantada e já havendo projectos para crescimento desta vinha.

O processo de vindima é manual e, depois de seleccionada, a uva chega a adega em caixas de 20kg onde é novamente escolhida, esmagada e desengaçada, fermentando em lagares de inox.

Já nos depósitos e depois dos melhores lotes estarem escolhidos, passam para a fase de estágio numa sala equipada com os mais modernos equipamentos de refrigeração e humidificação, criando as melhores condições para uma evolução correcta e exemplar.

A adega, além de estar equipada com o mais moderno equipamento para a produção e vinificação de vinho, é um edifício bonito de arquitectura arrojada, o que incentiva muitos dos passantes a fazer uma paragem, arriscar numa prova e no final levarem para casa algumas garrafas compradas na loja.

Aqui está um bom exemplo de como se podem vender bastantes vinhos sem o custo da distribuição.

Focando-me apenas nos vinhos que o enólogo Francisco Pimenta e a Herdade da Comporta produzem, estes dividem-se entre Herdade da Comporta, Parus e Chão de Rolas. Dentro dos que tive acesso, aqui vão algumas notas de prova.

Herdade da Comporta Rosé 2009
Produzido das castas Castelão e Touriga Franca, tem uma cor salmão escura.
O nariz revela framboesas e muita frescura.
Já a boca é um pouco doce, macia e bastante fresca.
Teor Álcool 12,5%.
Preço: €4,80

Herdade da Comporta Branco 2010
Produzido das castas Arinto e Antão Vaz, é bastante tropical e com notas cítricas, revelando-se aromático, estruturado e persistente.
Teor Álcool 13,5%.
Preço: €7,5

Herdade da Comporta Tinto 2007
Produzido das castas Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e Touriga Franca, tem uma cor romã viva, revelando muita fruta madura e alguma madeira no nariz e depois uma boca bastante estruturada com os taninos bastante presentes. Boa persistência e acidez.
Teor Álcool 13,5%.
Preço: €7,5

Parus Branco 2009
Produzido exclusivamente da casta Antão Vaz, revela logo notas de ananás e limão no nariz, e na boca os sabores mantêm-se de forma suave, mas rapidamente transformam-se num vinho fresco, mineral e com uma persistência muito apaixonante.
Teor Álcool 14%.
Preço: €10

Parus Tinto 2008
Produzido das castas Alicante Bouschet (80%), Aragonez (10%) e Touriga Nacional (10%).
A sua cor granada e o nariz onde a fruta vermelha madura, juntamente com as notas de madeira, revelam um vinho cuidado onde a oxigenação vai alterando beneficamente a sua evolução.
A boca revela taninos firmes (um pouco duros ainda), boa acidez e um bom equilíbrio das notas de madeira.
Teor Álcool 14,5%.
Preço: €12

De realçar que são vinhos equilibrados com preços justos e que demonstram uma boa solidez da equipa e do projecto de enologia da Herdade da Comporta.

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 25 de Maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Budapeste, do comunismo ao capitalismo

Longe vão os tempos que, para chegar a Budapeste, teríamos que fazer uma viagem sem fim, com escalas, e perdia-se um dia inteiro entre aeroportos e aviões.

Hoje a TAP já tem voos directos para a Hungria praticamente todos os dias, sendo agora apenas uma viagem de três horas e meia.

Depois de chegar a esta linda cidade, andar por cá é bastante fácil, pois cada bairro tem um número e as moradas evidenciam sempre essa catalogação.

A rede de transportes interna também é bastante simples e muito boa, desde os eléctricos que percorrerem a cidade em linhas rectas, os autocarros (um pouco envelhecidos), ao metro, e se não quer mesmo nada andar a pé, pode sempre optar pelos táxis (evite apanhar os de rua, peça sempre para chamar do hotel ou restaurante, sai sempre mais em conta).

Lá estou eu a falar em passear e ainda não disse onde dormir, na realidade aqui a oferta é muito vasta havendo alguns 5 estrelas e muitos de 4 com qualidade, o importante é que estejam o mais possível perto do centro.

Uma das avenidas mais populares e centrais é a Erzsébet, e aqui a opção mais sólida é o Corinthia Hotel Budapest, com 414 quartos, 31 suites e ainda vários apartamentos para quem pretende ficar um pouco mais tempo, ou então mais reservado.

Este hotel, que abriu em 1896 como Grand Hotel Royal, sobre muito luxo, foi sempre considerado um emblema da cidade. Depois de esquecido e quase a cair, este grupo em 2003 voltou a recriar o charme que sempre lhe foi gabado.

Alem dos vários quartos, este hotel tem um SPA com uma piscina fantástica, um piso executivo (com internet, jornais, salas de reunião e snacks, tudo oferta para os empresários), vários restaurantes, onde se destaca o asiático Rickshaw e a famosa pastelaria e casa de marcipan: Szamos Marcipan Café.

Corinthia Hotel Budapest
Erzsébet körút 43-49 Budapest H-1073.
Tel: +36 1 479 4000.
www.corinthia.com

Noutra zona, um pouco mais afastado do centro, mas suficientemente perto para se demorar apenas 5 minutos até chegar a um ponto de visita importante, está um dos mais bonitos hotéis da cadeia da Four Seasons - o Gresham Palace.

Com uma arquitectura Art Noveau, combina a excelência de um serviço de cinco estrelas com uma decoração e arquitectura únicos e uma vista de sonho sobre o Danúbio e a zona de Buda. Mesmo que não se pernoite aqui, vale a pena visitar não só o lobby e o seu bar, como experimentar o restaurante com porta para a rua e muito bem conduzido pelo chefe italiano Simone Cerea, e por fim terminar relaxado no fantástico SPA.

Four Seasons Hotel Gresham Palace,
Roosevelt tér 5-6, 1051 Budapest.
Tel: +36 1 268 6000.
www.fourseasons.com/budapest

Saindo agora do espectro da dormida, vou retomar ao passeio, pois esta cidade tem tantos locais para visitar que não há tempo para ficar no quarto a fazer ronha.

A basílica de San Stefano (Szent István-bazilika), terminada em 1905 e dedicada ao primeiro rei da Hungria, Szent István(975–1038), é baseada no estilo neoclássico.

Os museus também são muito interessantes, havendo de todos os estilos, de arte, de história da guerra, etc. Dos que visitei, o Museu Nacional Húngaro foi o que revelou as mais interessantes peças da história deste país, remontando mesmo a vários séculos a.C.

É comum, para quem anda a passear pela rua, encontrar em todos os cantos e recantos vários prédios com fachadas lindas, muitos jardins no meio da cidade, e um longo Danúbio que, não só embeleza Budapeste, como tem um conjunto de histórias românticas, dramáticas e de outros géneros sem fim.

Muito importante é o espírito de aventura, e sempre que há uma entrada para o interior de um prédio, não deixe de entrar, pois nunca se sabe o que este pode esconder: uma loja de bugigangas, um café romântico, um antiquário, há sempre algo novo para explorar.

Outro ponto interessante é o bairro judeu e a sua sinagoga: a segurança é apertada, como não poderia deixar de ser, mas o seu interior é fascinante e bastante revelador da história deste povo.

Todos os dias entre as 18h e as 19h, os locais juntam-se no Centro Cultural de Erzsebet e pelo jardim há vários músicos a tocar os seus instrumentos juntos ou isolados, e a estilos diferentes, o que demonstra bem a herança musical que este povo já nos deixou.

Muito populares e já com longa fama, são os famosos banhos e aqui poderá optar pelos do Gellert ou do Rudash mas aviso desde já que são mais interessantes no inverno, mas é algo a não perder.

Termino com alguns locais para jantar: para se comer a típica comida húngara é imprescindível ir ao Bock Bisztró na rua Erzsébet, mesmo junto ao Corinthia.

Aliás, partilham paredes. Aqui poderá passear por toda a Hungria sentado à mesa, não é um restaurante rústico como os do interior, mas o sabor está lá todo.

Bock Bisztró
1073 Budapest, Erzsébet körút 43, Hungary.
Tel: +36 1 321 0340.

Popular nesta zona é o caviar, e para experimentar o melhor que nesta terra se faz não há nada como ir ao Arany Kaviár Étterem, cozinha russa, muitos blinis e caviar ao melhor preço.

1015 Budapest, Ostrom utca 19.
Tel: (+361) 201 6737.
www.aranykaviar.hu

Mas a paragem obrigatória é no restaurante Costes na Raday, uma das mais animadas ruas de Budapeste, pois no número 4 vai encontrar nada menos, nada mais do que o português Miguel Rocha Vieira, que desde 2008 está a chefiar este restaurante, tendo já valido uma estrela Michelin e muitas louvas de todos os seus clientes.

É um espaço que não pode perder, e não se esqueça de dizer em português “Posso falar com o Chefe?”, pois ele concerteza vai ficar feliz de o receber.

Costes Restaurant
1092 Budapest, Ráday utca 4.
Tel: +36 1 219 0696.
www.costes.hu

Agradecimento a TAP (Transportadora Aérea Portuguesa), pela colaboração na reportagem.

www.flytap.pt

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 13 de Maio de 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Finalmente é sexta-feira

Nas últimas semanas, tenho andado num virote, saltando de país em país que nem caixeiro-viajante, não estando assim apto para falar das mais recentes novidades no que respeita a aberturas de restaurantes em Portugal. Assim, e para não deixar o senhor leitor desamparado, vou sugerir alguns espaços que devem ser fantásticos para os dias de sol que o fim-de-semana tem para oferecer (isto segundo o Instituto de Meteorologia). Deixe-se guiar...

Praia do Peixe

Fica na praia do Pego, perto do Carvalhal e da Comporta, na região onde para mim começam as melhores praias de Portugal.
Fica debruçado sobre o areal, por isso a vista não pode ser melhor, e depois da cozinha vêm várias iguarias totalmente irrecusáveis.
É claro que a proximidade ao mar e o nome evidenciam o produto nobre da casa: o peixe!
Mas o marisco também ganha destaque e os arrozes têm lugar especial na ementa.

Praia do Pego
7570-783 Carvalhal
Tel.: +351 913 061 256
www.praiadopeixe.com

Pico do Refúgio

Este é um local lindo na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, nos Açores, onde outrora foi uma casa do século xvii, bem como uma fábrica de chá, transformada e remodelada nas Casas de Campo. Um verdadeiro refúgio das pressões citadinas e apenas a 15 minutos do aeroporto de Ponta Delgada.
Além dos 8 partamentos/lofts decorados de forma agradável e confortável, todos com kitchenette, há um relvado imenso em redor da casa onde as mesas de pedra são o local ideal para uma longa e animada refeição sob o céu estrelado dos Açores.

Roda do Pico 5, Rabo de Peixe
Ribeira Grande, São Miguel
Tel.: +351 296 491 062

UVA, Divine dinning

Confesso que não é um hotel (The Vine) de que tenha ficado fã, pois fica no centro do Funchal, ou, segundo os próprios, por cima de um centro comercial e a vista de grande parte dos quartos é para o vizinho da frente.
Na Madeira queremos ver mar ou serra, janelas nunca! Mas um facto inegável é a vista única e fantástica do terraço deste hotel, e é neste andar que encontra um bar, uma piscina e o restaurante UVA. A cozinha é assinada pelo chefe francês e detentor de 3 estrelas Michelin Anthoine Westermann, o que dá uma sólida garantia gastronómica. A garrafeira também é excelente, por isso deixe-se levar pelas sugestões do chefe e sommelier.

Rua dos Aranhas, 27, Funchal
Tel.: +351 291 009 000
www.hotelthevine.com

Cais da Vila

Este é daqueles locais por que qualquer pessoa se apaixona à primeira vista.
Primeiro, pelo facto de ter sido a antiga estação de comboios de Vila Real, e eu não conheço ninguém que não goste de comboios e das suas estações, há algo de melancólico e ao mesmo tempo romântico nestes locais.
Segundo, está principescamente recuperada num wine bar, restaurante de tapas, esplanada e restaurante de fine dinning, havendo um pouco de tudo para cada gosto ou carteira.
Para petiscar, comer um prato principal ou simplesmente um branco para a noite mais quente.

Rua Monsenhor Jerónimo do Amaral (Estação de Comboios Vila Real)
Tel.: +351 259 351 209
www.caisdavilla.com

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 13 de Maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

E agora com uma nova Alma

Há vícios que, por mais que passem os anos, nunca conseguimos largar, e um dos meus é, enquanto desço a Calçada Marquês de Abrantes, estar que nem lince à espera de um movimento suspeito de outro automóvel, e assim que sentir movimento, saltar com as garras afiadas para o lugar que vagou.

Agora já há por aqui vários parques (largo Vitorino Damásio), mas vícios não se largam.

O destino é o restaurante Alma de Henrique Sá Pessoa, para verificar a evolução da sua ementa, carreira e criatividade.

Desde Maio de 2009 que não visitava esta casa a não ser para apresentações de vinhos, e como sabia que havia carta nova dou por mim a bater à porta do número 92.

Confesso que este é um espaço que sempre me fascinou, pois a sua decoração “clean” onde o branco prevalece, não só nas paredes como nas mesas, cadeiras, serviço, ementas e até no fantástico candeeiro de algodão que paira pela sala, dá uma sensação de limpeza que me dá confiança.

Pormenores como o facto de podermos ver a traça da parede antiga nos pontos de luz e o pequeno vidro ao nível dos olhos que nos permite verificar os trabalhos que se efectuam na cozinha, são muito interessantes.

Não me vou perder em grandes pormenores técnicos pois a comida que o chefe Henrique Sá Pessoa prepara, é simples sem ser banal, fácil de provar e principalmente é uma comida com sabor e requinte.

As opções são várias, com uma carta bastante interessante e variada, só peca pela pouca variedade de sobremesas, mas porque um prato não chega para avaliar o trabalho deste chefe, optei pelo menu de degustação (€39).

Como é habitual neste tipo de restaurantes, comecei com a surpresa do chefe, servido numa chávena de café vinha um cappucino de espargos muito suave, um bom mote para o inicio do que se revelou uma bela refeição.

As vieiras sobre uma cama de couve-flor em puré e ovas de salmão, também se revelaram muito felizes, estando muito bem cozinhado e as ovas deram-lhe uma textura de explosão à boca, bastante relevante.

A cavala em água de tomate era interessante, diferenciador jogando muito bem a acidez deste vegetal com o peixe (por muitos considerado menor, mas nesta combinação ganho o estatuto de rei).

O camarão, as ervilhas (puré e grão) e a gema de ovo a baixa temperatura, foi o que se seguiu, respeitoso e interessante, mas foi o atum com a água de galinha (caldo) com os cogumelos shitaki e enoki que me deixou completamente rendido.

O caldo da galinha cozido com vegetais e os cogumelos não era demasiado gorduroso e enaltecia a graciosidade do atum, é nestes momentos que diferenciamos um bom chefe com técnica e conhecimento, daqueles que simplesmente copiam.

A procissão não ficou por aqui, e ainda houve tempo para o lombo de novilho com macarrão recheado com requeijão de Seia e pesto, acompanhado por tomate cherry confitado, confesso que não foi o meu preferido, pois não achei grande graça ao macarrão, mas no entanto notava-se que havia técnica e o prato estava bem pensado no que respeita ao sabor e texturas.

Terminei com um sopa de frutos silvestres e gelado de balsâmico envelhecido, novamente um prato interessante e irreverente, mostrando que o chefe Sá Pessoa trabalha bem diversos produtos.

O serviço foi sempre correcto e atencioso, fazendo do Alma um local onde se está bem, e a graciosidade da cozinha do chefe Henrique é a mais-valia de uma casa que merece ser visitada.

Detalhes
Alma de Henrique Sá Pessoa
Calçada Marquês de Abrantes, 92 – 94
1200 Lisboa (Santos-o-Velho)
09° 09' 18" W, 38° 42' 28" N
+351 213 963 527 / +351 910 535 610
www.alma.co.pt
Horário: Encerra ao domingo e segunda aos jantares, Aberto das 19h30 às 23h00
Preço médio: €45
Tipo de Cozinha: Autor
Cartões: Todos

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 13 de Maio de 2011

sábado, 14 de maio de 2011

Finalmente é sexta-feira

Ontem, durante a curta viagem que separa Lisboa de Almeirim e a troco da gentileza do meu colega jornalista Eduardo Miragaia, folheei e li alguns artigos de duas revistas muito interessantes, mas houve algo que me despertou a atenção.

Alguém, grande conhecedor da vida, apelidado de “bom vivant” relatava a história triste e macabra de uma tentativa de refeição num restaurante “Dantesco”*1.

Reforço o “tentativa”, porque a experiência pouco passou do insulto, desaforo e tudo o que não se deve fazer na arte de receber – saíram ainda antes de começarem a comer! E depois fala-se em crise financeira!

Ou seja, enquanto tivermos locais com gente mesquinha e agraciada por uma estupidez incontornável, optaremos sempre pelo conforto de caselas.

Curiosamente, na próxima segunda-feira dia 16, vai decorrer no Hotel Altis Belém o segundo encontro das Artes na Mesa.

É um fórum realizado pelas Edições do Gosto e direccionado para os chefes de sala (restaurantes), e todos os hoteleiros e restauradores que queiram saber um pouco mais do bicho de 7 cabeças que se chama “hospitality”.

No programa estão grandes figuras como o sommelier Johannes Hartmann, do restaurante Petrus de Gordon Ramsay; tem também intervenções do gastrónomo Virgílio Gomes e do enólogo Mário Louro, e muitos mais temas ligados à industria da restauração.

Não diria que é um programa para toda a família, mas é, concerteza, um tema onde todos podem opinar e debater para melhorar aquela que é uma das principais fontes de rendimento dos portugueses.
www.e-gosto.pt

Voltando ao inicio do texto e da viagem, estava eu a caminho de Almeirim, mais precisamente da Quinta da Alorna, para verificar e comprovar a qualidade dos novos néctares Premium desta casa: O Marquês da Alorna (reserva).

Apesar do calor e do tinto estar um pouco acanhado no inicio, revelou-se um grande pomadão.

O branco no inicio fez o seu papel de fresco, pois em terras de Ribatejo, quando aquece, só a bebida arrefece, e depois numa análise mais ponderada revelou os seus aromas de frutas brancas como pêssegos, nêsperas e uma mineralidade e frescura muito interessantes.

O preço ronda os €15 e só foram produzidas 3.000 garrafas.

Quanto ao tinto, um pouco mais discreto, no entanto ao fim de umas horas depois de aberto e de uma carga de oxigenação no copo, lá revelou os aromas de fruta escura do bosque madura, alguma madeira, no entanto não excessiva, e boa acidez.

Penso que ainda precisa de tempo em garrafa para evoluir, mas já é uma boa promessa. O preço ronda os €19 e foram engarrafadas 5.000 unidades.

Facto curioso de não terem sido reveladas as castas, se a moda pega, poupa-nos o texto e dificulta-nos a análise.

*1 – Depois da análise ao texto, consegui apurar que o restaurante em causa é a Adega do Dantas - Rua Marechal Saldanha 15 Lisboa

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 13 de Maio de 2011

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Alentejanos para os dias quentes

Finalmente, temos tido a companhia do nosso tão desejado sol, e com ele a vontade é de largar os pratos quentes e pesados como as feijoadas, cozidos ou ensopados, e o desejo é de comer muito peixe grelhado, muito marisco na praia e escolher um bom branco ou rosé.

Não sei se são da mesma opinião, mas o calor obriga a uma opção mais fresca e, como tal, aqui fica um conjunto de opções de alentejanos para aumentar a sua garrafeira, ou simplesmente para acompanhar a sua refeição no seu restaurante preferido para os dias mais quentes:

Esporão Duas Castas 2010

Produzido pela Herdade do Esporão, sob a tutela dos enólogos David Baverstock e Sandra Alves, este branco é vinificado a partir das castas Gouveio e Verdelho.

Cor citrina límpida, revela aromas finos com notas minerais e frutadas de tangerina e frutos tropicais.

Já na boca é interessante e elegante, com boa estrutura e persistência.
PVP: 6,99 €;



Esporão Verdelho 2010

Vinificado apenas com a casta Verdelho de uma selecção manual, resultou num vinho de cor citrina com laivos esverdeados, no entanto cristalino.

O seu nariz muito cítrico e tropical é bastante intenso e complexo, já na boca revela muita frescura e mineralidade, boa acidez e termina com boa persistência.
PVP: 8,99 €;



Monte da Ravasqueira Branco 2010

Com uma cor muito citrina, límpida e bonita, foi produzido a partir das castas Alvarinho, Viognier e Arinto.

Este alentejano, com a assinatura dos enólogos Rui Reguinga e Paulo Peças, é bastante aromático, principalmente frutado, evidenciando-se e destacando-se as suas notas cítricas.

Na boca é equilibrado, revelando boa estrutura, e termina fresco e mineral.
PVP: 6,50 €;



Monte da Ravasqueira Rosé 2010

Produzido das castas Alfrocheiro, Aragonês e Touriga Franca, é um rosé de cor rosada, quase salmão, que revela um nariz muito fresco, onde notas de fruta vermelha como os morangos e framboesas são bastante evidentes.

Na boca é ligeiro, equilibrado, com boa acidez, sendo também mais seco e interessante que o irmão de 2009.
PVP: 4,50 €;



Paulo Laureano Premium Rosé 2010

Mais uma das novidades deste enólogo alentejano, agora um rosé de cor muito bonita, um salmão quase groselha, muito vivo.

Na boca e no nariz o que sobressai logo são as frutas como as ameixas e groselhas, e é um pouco especiado.

O "blend" das castas Aragonez, Alfrocheiro e Tinta Grossa deram ainda uma característica mais seca, com uma acidez muito elegante, fazendo deste um vinho muito gastronómico e uma excelente companhia para uma refeição.

PVP: 8,50 €.

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 11 de Maio de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Rota das Estrelas

O restaurante Il Gallo D'Oro, no Funchal, teve o privilégio de iniciar mais uma edição, desta feita a segunda, do festival gastronómico Rota das Estrelas.

O que começou por ser uma ideia extravagante, arrojada e arriscada, rapidamente se transformou em algo importante e sem precedentes em Portugal, só ultrapassada em notoriedade pelo famoso Tribute to Claudia, na Vila Joya.

A ideia é simples e eficaz: em primeiro lugar, aproximar todos os restaurantes e seus chefes com estrelas Michelin em Portugal, criar ementas conjuntas e, principalmente, juntar estes profissionais para que partilhem ideias e conhecimentos para que possam evoluir gastronomicamente, e com isto Portugal e os portugueses ganham não só à mesa, mas pela notoriedade que estas iniciativas trazem.

Chave de Ouro para o começo e os privilegiados que puderam degustar uma das três refeições servidas na Madeira, em que os intervenientes foram os chefes Benoît Sinthon (Anfitrião, Il Gallo D'Oro, Funchal, * Michelin), Dieter Koschina (Vila Joya, Praia da Galé, ** Michelin), Michel Roth (Hotel Ritz, Paris, ** Michelin), Diego Guerrero (El Club Allard, Madrid, * Michelin) e ainda os pasteleiros Gilles Marchal (La Maison du Chocolat, Paris, considerado um dos melhores do mundo) e Yves Michoux (Il Gallo D'Oro, Funchal, * Michelin), que confeccionaram pratos como: medalhões de lavagante, trilogia de tomate, abacate, aipo e vinagrete de tapenade; ovo surpresa com pão e pancetta sobre creme ligeiro de batata; filete de salmonete, ragoût de polvo da costa e raviolli de alho negro; sinfonia de porco preto, maçã, morcela de Monchique, sabor de aipo.

O próximo jantar é já nos próximos dias 28 e 29 de Maio, em Porches, no restaurante com uma estrela Michelin - The Ocean. O seu chefe, Hans Neuner, já tem como convidado o Albano Lourenço (Arcadas, Coimbra, * Michelin), mas são esperadas mais surpresas para estes dias!

Já na calha estão marcados mais eventos, 22 e 23 de Junho em Coimbra, no restaurante Arcadas, sob a tutela do chefe Albano Lourenço; 8 e 9 de Julho em Amarante na Casa da Calçada, sendo o residente o chefe Vítor Matos; 28 de Outubro no Algarve no restaurante da Vila Joya, único com 2 estrelas Michelin em Portugal, sob a mestria da cozinha do chefe Dieter Koschina, e termina com os últimos jantares nos dias 18 e 19 de Novembro em Cascais na Fortaleza do Guincho, na respeitável cozinha do chefe francês Vincent Fargés.

Poderá recolher mais informações através do blogue rotadasestrelas.blogspot.com.


Medalhões de lavagante, trilogia de tomate, abacate, aipo e vinagrete de tapenade
Michel Roth (Hotel Ritz, Paris, ** Michelin)


Ovo surpresa com pão e pancetta sobre creme ligeiro de batata
Diego Guerrero (El Club Allard, Madrid, * Michelin)

Filete de salmonete, ragoût de polvo da costa e raviolli de alho negro
Dieter Koschina (Vila Joya, Praia da Galé, ** Michelin)



Sinfonia de porco preto, maçã, morcela de Monchique, sabor de aipo
Benoît Sinthon (Anfitrião, Il Gallo D'Oro, Funchal, * Michelin)Gilles Marchal (La Maison du Chocolat, Paris)

Saint honoré de framboesa
Yves Michoux, (Anfitrião, Il Gallo D'Oro, Funchal, * Michelin)


Agradecimento a TAP (Transportadora Aérea Portuguesa), pela colaboração na reportagem.

www.flytap.pt


Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 05 de Maio de 2011

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A arte de bem criar champanhe: Ruinart

Há muitos anos que o champanhe é alvo de paixão ou de rancor, bebida agradável que não é indiferente a ninguém.

Uns gostam de beber acompanhada de frutos, sendo o mais popular o morango, visto que activa as propriedades de acidez e a adstringência, mas na realidade quando o champanhe é bom, simples é como se aprecia melhor.

Uma das casas mais conhecidas e afamadas pela sua qualidade é a francesa Ruinart, em Reims, que desde 1729 produz os seus néctares.

Não vou estar aqui a explicar os métodos técnicos de trabalho, como o tratamento da uva e das vinhas no campo, a sua apanha, vinificação e engarrafamentos.

Vou saltar todas estas linhas e falar do que é mais interessante: o produto final!

Não fique o leitor a pensar que não é importante a produção, que é bastante interessante até, mas o prazer está em beber, degustar e apreciar - o resto é história.

Vou começar pelo Blanc des Blanc, feito exclusivamente da casta Chardonnay: tem uma cor amarela-dourada perfeita, mas quando o pomos a dançar no copo, podemos ver alguns laivos esverdeados, distintivos pela sua acidez.

As bolhas são finas e elegantes, elevando ao topo aromas primaveris e frescos, como os frutos vermelhos, morangos, cerejas num "bouquet" extraordinário.

Na boca, o prazer amplia-se ao demonstrar um enorme equilíbrio, estrutura e, principalmente, um final muito persistente. Preço 62 €.

Um dos mais populares é o Rosé, produzido das castas Chardonnay (45%) e Pinot Noir (55%): revela-se num rosa-dourado ao olho, e com uma bolha muito delicada e expressiva.

O nariz é um estrondo, muito floral, frutado e fresco, dando vontade de o beber logo.

Na boca, mantém a firmeza e a delicadeza do nariz sobre boa estrutura, revelando a fruta vermelha e os morangos em cada golo. Termina longo. Preço 62 €.

Já na gama de topo estão o Dom Ruinart e o Dom Ruinart Rosé: o primeiro foi lançado recentemente no mercado português, sendo um "vintage" de 1998, produzido somente com a casta Chardonnay, verdadeiramente fantástico e que poderá encontrar nas principais garrafeiras por volta dos 185 €.

O segundo, o Rosé, é de uma fineza e elegância de que poucos produtores se podem orgulhar. É, para mim, "la crème de la crème".

Produzido com as castas Chardonnay (84%) e Pinot Noir (16%), revela-se ao olho num rosa com laivos dourados e cobre, e bolha muito fina e delicada.

O nariz muito opulento, mas a revelar de forma subtil as fragrâncias, só é superado pela boca cítrica e de frutos do bosque, muito equilibrada e elegante.

Uma verdadeira bomba de prazer no palato. O preço assusta, mas a qualidade paga-se: 315 €.

Não fiz harmonizações com nenhum prato ou sobremesa, porque o champanhe dá bem com tudo e tudo se dá bem com um Ruinart!

*Preços retirados da Garrafeira Internacional.

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 04 de Maio de 2011