quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Na terra do Whisky

Das vezes que fui à Escócia, aterrei sempre no aeroporto de Aberdeen de noite, seguindo directamente para a região de Speyside para o hotel.

A única forma de me aperceber que estava num outro país foi, quando entrei no carro, ter pensado, num primeiro impulso, que o motorista estava louco, porque entrou na estrada fora de mão. Nada disso: estávamos no Reino Unido!

Mas a vantagem de chegar no breu nocturno é que temos o primeiro contacto com o verde pela manhã e, esteja chuva ou escasso sol, é sempre impressionante e cativante.
Tudo o que imaginou da Escócia é verdade: campos e bosques verdes a perder de vista, ovelhas, ovelhas e mais ovelhas, castelos impressionantes e muita, mas mesmo muita, cevada.

Na minha última viagem, tinha uma intenção: visitar a destilaria da Glenfiddich, perceber um pouco melhor como são feitos os whisky de malte e quais os programas gastronómicos e culturais desta zona.

Na manhã seguinte, faço a minha rotina de abrir a janela e contemplar a paisagem do último andar do Hotel The Dowans em Aberlour
www.dowanshotel.com.

Esqueça as tecnologias e modernidades. Quem vai para esta região do mundo, quer ir para uma antiga casa senhorial ou para um dos remodelados castelos, e este em Aberlour é um belo exemplo.

Aqui estamos a meros 20 minutos da destilaria e os 11km que separam ambos os pontos estão repletos de destilarias e tanoarias espalhadas pelas planícies e montanhas de Speyside.

Chegado à destilaria, está na hora de fazer a visita de "Connoisseurs", que tem obrigatoriamente de ser marcada com antecedência e custa €22.

Uns minutos antes da hora marcada para o início da visita, há uma espécie de "check-in" numa sala de projecção onde, durante 10 minutos, assistimos a um pequeno filme que resume o trajecto do clã Grant.

Finda a sessão, o grupo de "portugueses" é chamado por um rapaz chamado Bert - este vai ser o nosso guia durante as próximas duas horas e meia.

Como o processo do whisky, iniciamos este tour no "Malt Bar" onde é feita a maltagem - aqui prepara-se a cevada, transformando o amido em açúcar.

Saltamos para a moagem e maceração e aceleramos virtualmente três dias ao processo. Nestas salas trituram-se os grãos de cevada que depois são depositados num tanque com água quente e inicia-se o processo de extracção do açúcar, criando um líquido açucarado que se chama "wort".

Avançamos mais umas horas e chegamos à sala com os tanques de fermentação, onde se adicionam leveduras ao líquido açucarado e, miraculosamente, num processo natural, o açúcar transforma-se em álcool e numa espécie de cerveja também conhecida por "wash".

Segundo Bert, o guia, esta é a mais pura das cervejas que ele já bebeu. Quanto a mim, se viesse gelada era bem melhor!

Avançamos mais três e, umas salas depois, já num armazém diferente, dou de caras com um armazém repleto de alambiques de cobre, aqui apelidados de Wash Still.

Chegamos então à destilação!

Aquilo que, no tempo de Merlin, era considerado bruxaria, é simplesmente um processo onde se separam os alcoóis e os seus aromas das matérias indesejáveis, através do aquecimento.

Nesta sala, o "wash" vai para os alambiques, que são aquecidos por fogo de lenha, e onde, durante seis horas, é sujeito a temperaturas próximas do ponto de ebulição, criando a evaporação.

Os líquidos evaporados são recolhidos num pequeno depósito conhecido por "low wines receiver". Nesta fase, há um líquido com 21% de álcool que volta para os alambiques, estes mais pequenos, chamados de "spirit still".

Nesta fase da destilação, assim que os álcoois chegarem aos 70% a 65%, o whisky está pronto e segue para a fase final do processo: a maturação.

A visita está a chegar ao fim e, como é evidente, o processo também!

Agora o whisky vai para as barricas, onde descansa durante vários anos, e o papel do Malt Master é crucial para acompanhar e criar aromas ricos e intensos com os quais só contactamos depois de abrirmos a garrafa.

Aliás, falta aqui uma parte muito importante da visita - a prova! Estava a ver que, depois de duas horas a aprender tudo sobre o fabrico, ficava a seco.

A visita terminou com uma prova de algumas das variedades de Glenfiddich - 12, 15, 18 e 21 anos -, e agora despeço-me da destilaria passando pela gift shop para comprar alguns presentes para a família e, claro, umas garrafinhas para mim.

Ainda tenho umas horas, pelo que decido explorar um dos famosos castelos da região, o Ballindalloch Castle, em Banffshire.

Pertencente à família Macpherson-Grants desde 1546, ano em que foi construído, espelha bem o que era a vida na época. Muitas salas cheias de quadros com familiares, reis, príncipes e outros notáveis. Mobílias pesadas cheias de embutidos e brasões. Gostei especialmente das camas, que evidenciavam muito mais estilo e conforto do que as que vejo nas grandes superfícies comerciais.

Alguns dedos de conversa com a família que faz questão de receber todos os convidados, seja para dormir, jantar ou simplesmente visitar as paredes com cinco séculos de história.
www.ballindallochcastle.co.uk

Não parti da Escócia sem antes ter uma refeição excelente. Para falar com franqueza, tive de experimentar vários locais para poder finalmente recomendar um restaurante. No entanto este, após 675gr de carne, conquistou um grande adepto.

É em Craigellachie, mesmo no centro da vila, e serve desde os tradicionais "haggis" com o néctar da região, vieiras com o tradicional "black pudding", cogumelos selvagens, carnes e peixes frescos e fantásticos, um bife do lombo de carne local maturada com 225gr, verdadeiramente fantástico.


Além de restaurante, é um hotel e um bar onde poderá encontrar todos os whiskies possíveis, até japoneses!
www.whiskyinn.com

Ir à Escócia é uma experiência verde, onde as tradições ainda são vividas como antigamente.

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 12 de Janeiro de 2011

1 comentário:

Anónimo disse...

seu blog é muito interessante
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